Documento vazado revela como a SEGA perdeu para o PlayStation

“A ‘Guerra dos Consoles’ não é algo novo e tem sido protagonizada por diferentes empresas ao longo das décadas. Nintendo vs SEGA, SEGA vs PlayStation, Nintendo vs PlayStation e a mais recente batalha, Xbox vs PlayStation vs Nintendo, que ganhou ainda mais fogo com a divulgação de documentos durante a batalha judicial da Microsoft para adquirir a Activision Blizzard.

Documento Vazado Revela Como A Sega Perdeu Para O Playstation
Documento Vazado Revela Como A Sega Perdeu Para O Playstation 3

Um mergulho nos bastidores da batalha entre a SEGA e a Sony nos anos 90

Agora, outro documento vazado, do passado, revela informações muito interessantes. O documento ‘Brand Review’ de 1997 da Sega, datado de janeiro de 1996, possui mais de 270 páginas e inclui listas de lançamentos, discussões estratégicas e e-mails relacionados à luta da gigante japonesa contra o PlayStation – que, segundo as anotações do documento, estava superando o console Saturn da Sega na proporção de 7 para 1.

No início do documento, um e-mail interno do presidente da Sega of America, Tom Kalinske, lamenta o fato de que o Saturn estava vendendo rapidamente apenas no Japão. “Estamos matando a Sony”, diz ele. “Gostaria que todos os nossos funcionários, vendedores, varejistas, analistas, mídia, etc., vissem e entendessem o que está acontecendo no Japão; eles então entenderiam por que eventualmente venceremos aqui nos Estados Unidos”. Essa positividade era admirável, mas até mesmo o próprio Kalinske pode não ter acreditado nisso na época, pois deixou a empresa em 15 de julho de 1996, alguns meses depois da circulação do documento de revisão da marca dentro da empresa.

O documento pintava um quadro bastante sombrio para o Saturn. Uma seção menciona a necessidade de melhorar significativamente o suporte de terceiros para alcançar a paridade com a Sony, já que a biblioteca de jogos de terceiros da Sony era consideravelmente mais forte do que a do Saturn. Além disso, a redução significativa no orçamento de marketing (queda de 40%) tornaria difícil competir contra o forte suporte contínuo da Sony e o lançamento esperado da Nintendo.

A falta de suporte de terceiros também era uma preocupação, mencionando que a Crystal Dynamics e a EA poderiam interromper o desenvolvimento futuro de jogos para o Saturn. O documento também destaca que títulos importantes de terceiros, como Destruction Derby e WipEout, exclusivos da Sony quando o PlayStation foi lançado no Ocidente em 1995, possuíam versões inferiores para o Saturn. Isso destacava a necessidade de afastar-se do processo de “portagem direta do PSX” e explorar os pontos fortes do Saturn, trabalhando mais de perto com a Psygnosis, empresa responsável pelos jogos.

Com a iminente chegada do Nintendo 64, os gerentes da Sega of America estavam claramente cientes da possibilidade de ficarem em último lugar. O documento menciona que, com uma diferença de preço de US$ 50, o PlayStation poderia superar o Saturn em vendas na proporção de 7 para 1 novamente. Com o lançamento do Ultra 64 (nome antigo do N64) previsto para abril/maio por US$ 249, o Sega Saturn poderia se tornar o terceiro sistema.

O documento descreve como a Sony conseguiu vencer o Saturn no mercado dos Estados Unidos. A Sony era geralmente vista como mais barata e seus produtos pareciam melhores para os consumidores. Isso se devia à falta de entrega da Sega de um produto que parecesse superior e à publicidade que não se concentrava nessa dimensão. Os PlayStations eram mais comercializados do que o Saturn, resultando em maior exposição e amostragem.

O documento também reconhece as falhas anteriores da Sega em termos de hardware, mencionando o 32X e o Sega CD como dispositivos que prejudicaram o patrimônio da empresa. O PlayStation, sendo mais novo, era considerado tecnicamente superior pelos consumidores, e a Sony aproveitou seu considerável patrimônio em produtos eletrônicos de consumo.

Os títulos esportivos foram uma batalha fundamental para a Sega na guerra dos 16 bits, mas quando o Saturn chegou, ficou claro que a empresa estava sendo superada pela Sony. O documento destaca que a Sega não tinha um grupo de desenvolvimento esportivo centralizado e estava enfrentando dificuldades em programar o lançamento de produtos no início da temporada esportiva, devido à falta de qualidade competitiva de alguns jogos, como NHL Hockey e NBA Action.

O documento menciona os próximos títulos esportivos da Sega, incluindo um com o codinome “Microprose” NFL, que aparentemente estava seis meses atrasado e de qualidade muito baixa. Era tão ruim que se acreditava que prejudicaria a Sega e sua reputação nos esportes se fosse lançado. A única opção, segundo o documento, era cancelar o título ou vendê-lo para uma terceira empresa.

O documento também aborda outras plataformas da Sega na época, como o Genesis e o Pico, e revela o estado terrível do orçamento de marketing reduzido da empresa. Em uma troca de mensagens, Kalinske questiona por que mais não está sendo feito em termos de gastos promocionais para posicionar o Sega Nomad (um Genesis portátil) como um rival do Game Boy. A resposta revela que os recursos estavam limitados.

Uma seção posterior do documento descreve os planos da Sega para mudar as coisas na América do Norte. Ironicamente, um desses passos era ignorar o que o Saturn fazia de melhor – mover sprites em 2D – e focar em jogos 3D. A Sega pretendia utilizar polígonos em vez de sprites, fornecendo ambientes em 3D para a maioria dos jogos, e desenvolver pelo menos 1-2 jogos “inovadores” que utilizassem a tecnologia Saturn e que não pudessem ser replicados pelo PlayStation. O documento também menciona o lançamento de pelo menos 6 a 8 jogos com compatibilidade com a internet, aproveitando o add-on de modem do Saturn.

No entanto, a Sega não foi capaz de reverter a situação com o Saturn. O console vendeu apenas 9,26 milhões de unidades em todo o mundo, em comparação com os impressionantes 102,49 milhões do PlayStation e 32,93 milhões do N64, colocando-o firmemente em terceiro lugar. Apesar disso, o Saturn ainda é lembrado com carinho pelos fãs da Sega, especialmente aqueles que tiveram a sabedoria de importar um console japonês para desfrutar das melhores versões dos jogos de fliperama da época.

Fontes: PushSquare/Time Extension/Sega Retro/Twitter